Alfredo Bosi é o mestre amado de muitas gerações de estudantes que passaram pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Ensinando inicialmente literatura italiana e, desde os anos 1970, literatura brasileira, cumpriu como poucos, e talvez como ninguém, o desígnio integrador das humanidades prometido por essa instituição. Sua relação com a literatura, funda e de grande amplitude, era solidamente modulada pelas contribuições da história, da sociologia, da antropologia, da psicologia e da filosofia. Muito mais que o resultado de uma acumulação erudita de diferentes áreas do conhecimento, essas vertentes confluíam nele para uma compreensão complexa do mundo, generosamente compartilhada, sempre, com lúcida limpidez.
Convencido de que a Universidade converte-se numa ilha de ilusão, quando fechada em si mesma, entregou-se à prática da educação popular e à reflexão sobre os caminhos e descaminhos da educação brasileira. Lutou em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, contra os esquecimentos impostos pela ditadura cívico-militar, contra a voracidade capitalista e a redução dos horizontes da vida, pela transformação histórica da condição humana.
Sua atenção esteve sempre voltada, tanto no modo de ler literatura como no de se relacionar com os outros, para a dimensão singular da pessoa. A discreta compaixão, a firme solidariedade e a imensurável amizade são marcas da sua passagem. Um humanista democrático e de formação totalizante, como os tempos não produzem mais, empenhou o coração em tudo que fez, e deixa um legado imenso para todos os que vivemos na contracorrente desses tempos difíceis.
Em meu nome e de todos os colegas da área de Literatura Brasileira,
José Miguel Wisnik
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